RESENHA | O Silêncio das Montanhas - Khaled Hosseini

29 de março de 2019

Segundo Abdullah seu pai é um excelente contador de histórias, Pari ainda é pequena para opinar sobre isso, mas está sempre atenta quando seu pai lhes presenteia com uma delas. E assim a história de O Silêncio das Montanhas tem início a partir de uma fábula contada pelo pai dos irmãos, na qual uma família é dilacerada pela separação. Enquanto Pari e Abdullah se encantam com o conto sequer imaginam que o mesmo viria a se repetir em suas vidas.


O Silêncio das Montanhas
Khaled Hosseini

Literatura Estrangeira | Drama
350 páginas | 2013
Editora Globo Livros

Classificação da leitora: 4/5



O Silêncio das Montanhas traz como protagonista os irmãos Pari e Abdullah, que moram em uma aldeia distante de Cabul, são órfãos de mãe e têm uma forte ligação desde pequenos. Assim como a fábula que abre o livro, as crianças são separadas, marcando o destino de vários personagens. Paralelamente à trama principal, Hosseini narra a história de diversas pessoas que, de alguma forma, se relacionam com os irmãos e sua família, sobre como cuidam uns dos outros e a forma como as escolhas que fazem ressoam através de gerações. Assim como em O Caçador de Pipas, o autor explora as maneiras como os membros sacrificam-se uns pelos outros, e muitas vezes são surpreendidos pelas ações de pessoas próximas nos momentos mais importantes. Segundo o próprio Hosseini, o novo título "fala não somente sobre a minha própria experiência como alguém que viveu no exílio, mas, também sobre a experiência de pessoas que eu conheci, especial os refugiados que voltaram ao Afeganistão e sobre cujas vidas tentei falar tanto como escritor quanto como representante da Organização das Nações Unidas. Espero que os leitores consigam amar os personagens de O Silêncio das Montanhas tanto quanto eu os amo". Seguindo os personagens, mediante suas escolhas e amores pelo mundo - de Cabul a Paris, de São Francisco à Grécia -, a história se expanda, tornando-se emocionante, complexa e poderosa. É um livro sobre vidas partidas, inocências perdidas e sobre o amor em uma família que tenta se reencontrar.


 
Pari e Abdullah são os protagonistas dessa história que vagará por países do Oriente e do Ocidente enquanto personagens relacionados aos irmãos e as suas histórias vão sendo conhecidos em diferente épocas da vida dos irmãos. Pari será uma personagem bem explorada e conhecida pelo leitor, ao passo que Abdullah não será tão trabalhado pelo autor, até menos do que alguns outros personagens secundários que se farão mais conhecidos e presentes na história.

Assim como o pai de Pari e Abdullah, o autor de O Silêncio das Montanhas é um excelente contador de histórias e isso se traduz na obra que envolve o leitor despertando a curiosidade pelo desenrolar da história através de uma narrativa fácil e agradável. Uma obra densa e profunda equilibrada entre a apresentação dos personagens e o desenvolvimento da trama cadenciada entre o passado e o presente exigindo do leitor atenção aos acontecimentos que podem causar um pouco de confusão até adaptação ao estilo da narrativa utilizado pelo autor.

Não se pode negar que é uma história dilacerante, seja pelo seu início no qual os irmão protagonistas são separados na infância e que comove até mesmo os leitores mais fortes, ou pelo seu final que, mesmo após gerações, consegue trazer um desfecho aflitivo que sensibiliza e faz o leitor refletir sobre a vida, os valores, o que realmente importa e, principalmente, quem importa. O reencontro dos irmãos é uma dúvida constante e não se pode saber previamente o que o autor reserva para o final, pois a condução da história não traça um caminho claro acerca disso.


Você já parou para pensar até que ponto os seus sonhos e desejos conduzem a sua vida? Quais impactos as suas escolhas, para atender os seus anseios, tem impacto sobre a vida alheia? E qual a medida desse impacto: poderá ser medida em minutos, horas, anos ou décadas? Você se acha capaz de julgar a vontade alheia, mas já parou para pensar na sua própria? Uma avaliação bem pessoal sobre a obra e que pode não ter nenhuma relação com a mesma, mas que me fez analisar sob esse aspecto é o egoísmo humano, a necessidade de atender o seu desejo (mesmo que esse desejo seja satisfazer alguém), mas não perde o caráter egoístico da decisão que foi pensando sempre no atendimento da sua própria vontade.

O Silêncio das Montanhas também apresenta o viés econômico e cultural como fator determinante na tomada das decisões que não podem ser atribuídas exclusivamente à vontade. Nessa jornada o leitor será levado a conhecer diversos países, além de alguns costumes, mesmo que de forma rápida e superficial, a descobrir o quanto os aspectos culturais tem interferência na tomada de decisões e escolhas de vida.

Uma obra que tem a natureza humana apresentada de forma crua sob o aspecto do "querer", uma busca pelo reencontro daqueles que se ama e, por vezes, esse alguém pode ser o "eu mesmo" enquanto os laços familiares e as raízes desenvolvem o seu papel na formação da pessoa e, quanto o meio atua na formação da pessoa. Uma obra sobre amores possíveis e impossíveis, sobre o absurdo e inimaginável, sobre a dor dilacerante da separação e a necessidade de reconstrução para seguir com a sua vida, sobre o egoísmo, escolhas e arrependimentos. Uma obra tocante a sua maneira que não deixará o leitor indiferente aos questionamentos que suscita.

Para finalizar é preciso dizer que o livro conta com apenas 9 capítulos o que significa que são capítulos longos, pois o livro tem 350 páginas, o que pode levar a uma leitura mais arrastada carecendo de um pouco de persistência por parte do leitor. Não encontrei erros nessa edição, a capa é bonita sem ser chamativa e condizente com a história,  as páginas são amareladas de boa gramatura e fonte agradável à leitura.


* livro escolhido para leitura em fevereiro dentro do Projeto 12 livros em 2019


12 comentários

  1. Uau Adri, que resenha completa!! Pelo o que vc descreve parece mesmo uma história densa e rica em detalhes culturas, do tipo de livro que eu, particularmente, leria sem pressa! Parabéns pelo texto!

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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    1. Oi Mi! Muito obrigada. Depois de ler esse livro entendo porquê o autor é renomada e aclamado por tantos leitores, a capacidade narrativa singular e envolvente cativa. Com certeza lerei outros! Que bom que te interessou também. Beijos, Adri

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  2. Oi, Adri
    Acho legal quando a gente se surpreende com um livro. Eu já teria virado a cara pra essa capa, confesso, mas eu fiquei interessada na história por causa dos questionamentos que ela te trouxe, apesar do gênero não me agradar tanto.
    Anotei a dica!

    Beijo
    http://www.capitulotreze.com.br/

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    1. Oi Mi! Eu também não costumo ler livros nesse estilo, mas tenho me surpreendido ultimamente com livros que saem da minha zona de conforto e estão sendo ótimas experiências, parece um sopro em meio a leituras que estavam ficando iguais e cansativas, talvez porque eu estava sempre buscando o mesmo estilo. Espero que goste também. Beijos, Adri

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  3. Oi Adri, eu sempre quis ler este livro, mais ainda não o tenho!
    Gosto muito de ler um pouco sobre a cultura de diversos lugares e este pelo que li na sua resenha é bem rico, além de ser uma obra que toca o leitor.
    Eu só não gostei muito de saber sobre esses capítulos longos, porém ainda quero ler!

    Beijos Mila

    Daily of Books Mila

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    1. Oi Mila! Ano passado eu li outros livros que exploravam mais a cultura ocidental em histórias de ficção e ADOREI, é muito enriquecedor. Eu te entendo e concordo, mas assim já saberá que poderá ser um pouco mais cansativa por conta dos capítulos longos e ir preparada para deixar parar no meio de um capítulo e retomar no outro dia, hehe. Beijos, Adri

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  4. Oi, Adri!
    Assim... eu já não estava muito entusiasmada com a leitura, aí você me vem e diz que tem nove loooooongos capítulos... Acho que vou passar a dica por agora
    Beijos
    Balaio de Babados

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    1. Oi Lu, pois é, esse é um ponto bem negativo difícil de transpor ao longo da leitura, mas te digo que a experiência é maravilhosa e, ao final, compensa esse empecilho à fluidez. Deixa a dica anotada, vai que um dia esse não seja um ponto que impeça a leitura, hehehe. Beijos, Adri

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  5. Oiii Adri

    Desse autor eu já li O Caçador de Pipas e a escrita dele é mesmo um pouco parada em alguns momentos e dá a impressão que a história fica densa, aidna assim a profundidade dos temas que ele traz e também os relatos incríveis sobre esses lugares que a gente conhece tão pouco fazem tudo valer a pena. O Caçador de Pipas foi muito duro e bem tocante também, pelo visto essa também segue o mesmo ritmo.

    Beijos

    www.derepentenoultimolivro.com

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    1. Oi Alice. Não li esse livro ainda, mas depois de O Silêncio das Montanhas tenho interesse em ler outras obras do Khaled. Em relação ao livro, teu comentário é pertinente a essa obra também, deve ser uma marca da narrativa do autor e como aborda os assuntos. Beijos, Adri

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  6. Se eu visse esse livro, certamente não o compraria para ler, mas depois de ver sua resenha é impossível não querer conhecer essa história. Amei sua resenha!

    https://www.kailagarcia.com

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    1. Oi Kaila, fico feliz em saber que a minha resenha te motivou a conhecer a história do livro porque realmente vale a leitura. Espero que goste também. Beijos, Adri

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