RESENHA | O Tatuador de Auschwitz - Heather Morris

14 de janeiro de 2019

A resenha de hoje é sobre um livro que não é fácil de ler, mas não pela escrita ou qualquer elemento textual, mas sim por tratar de um dos períodos negros da história da humanidade, talvez o ápice da crueldade humana. Em meio a desumanidade, "O Tatuador de Auschwitz" é a história de quem não desistiu, daqueles que ainda tinham esperança e acreditavam em sentimentos puros e verdadeiros.


Nesse romance histórico, um testemunho da coragem daqueles que ousaram enfrentar o sistema da Alemanha nazista, o leitor será conduzido pelos horrores vividos dentro dos campos de concentração nazistas e verá que o amor não pode ser limitado por muros e cercas. Lale Sokolov e Gita Fuhrmannova, dois judeus eslovacos, se conheceram em um dos mais terríveis lugares que a humanidade já viu: o campo de concentração e extermínio de Auschwitz, durante a Segunda Guerra Mundial. No campo, Lale foi incumbido de tatuar os números de série dos prisioneiros que chegavam trazidos pelos nazistas – literalmente marcando na pele das vítimas o que se tornaria um grande símbolo do Holocausto. Ainda que fosse acusado de compactuar com os carcereiros, Lale, no entanto, aproveitava sua posição privilegiada para ajudar outros prisioneiros, trocando joias e dinheiro por comida para mantê-los vivos e designando funções administrativas para poupar seus companheiros do trabalho braçal do campo. Nesse ambiente, feito para destruir tudo o que tocasse, Lale e Gita viveram um amor proibido, permitindo-se viver mesmo sabendo que a morte era iminente.




Literatura Estrangeira | 240 páginas | 2018 | Editora Planeta

Classificação: 4/5


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A Segunda Guerra Mundial foi marcada pelo Holocausto - genocídio ou assassinato em massa de judeus, ciganos, poloneses, homossexuais, deficientes e outros grupos determinados pelos nazistas, além de atrocidades inimagináveis praticadas por eles contra suas vítimas. O campo de concentração de Auschwitz/Birkenau, o mais temido e atroz dentre os locais que os nazistas colocavam em práticas suas brutalidades, é o cenário de "O Tatuador de Auschwitz".

A narrativa é feita em terceira pessoa e os capítulos não são longos nem curtos. A história se inicia e rapidamente o leitor é levado aos portões de Auschiwtz, não existe muita introdução nesse livro, pois a realidade que se contará é o que acontece dentro do campo de concentração e, aos poucos, o leitor será apresentado às terríveis brutalidades praticadas pelos nazistas diariamente: abusos físicos e psicológicos, tortura pela fome, pelo excesso de trabalho, pelas condições desumanas as quais os prisioneiros são submetidos, experimentos, escravidão, doutrina do medo, entre outros... alguns deles são explicitamente nomeados e retratados, outros ficam subentendidos nos parágrafos, mas fica claro que as maldades superam o imaginável.

Nessa história existe um protagonista, Lale, mas diversas pessoas são conhecidas, porque ele se torna uma figura popular dentro do campo de concentração, tanto pelos prisioneiros quanto pelos nazistas devido a sua posição de destaque entre aqueles. Por exercer a função de tatuador, Lale é "beneficiado" com alguns "privilégios", como refeições extras, uma cama só para si, a possibilidade de transitar com mais "tranquilidade" pelos campos (em alguns momentos). Essa condição leva Lale a sentir-se em uma posição de responsabilidade em ajudar tantos prisioneiros quanto puder, enquanto ele poderia sobreviver "melhor" sendo o tatuador com regalias, Lale procura ajudar quem sofre ainda mais nas mãos dos nazistas. 




Em meio a tanto horror, tantas mortes e desumanidade sem medida, "O Tatuador de Auschwitz" também traz o retrato do amor e da esperança, da centelha pela sobrevivência que está acessa em cada ser humano, da grandiosidade desses sentimentos face às monstruosidades que o ser humano é capaz de infligir ao seu semelhante. Um pão escondido entregue em meio às roupas, um chocolate cortado em pedacinhos e dividido entre vários prisioneiros, um remédio conseguido com trabalhadores de fora dos muros para quem está doente... cada um desses ato revelando um protesto, demonstrando que o ser humano não perdeu a sua bondade mesmo quando cada momento vivido seja uma aflição desesperada. Lale e Gita são a prova de que o amor pode sim surgir e se desenvolver mesmo nas piores condições, de que esse sentimento é maior e mais forte, que realmente é um impulso à vida; cada toque trocado, cada olhar clandestino são simples, poucos, mas intensos e, por vezes, a única motivação que os levará a seguir em frente e não se render, não se dobrar e não se deixar vencer se entregando à morte que os espreita a cada dia.

"O Tatuado de Auschwitz" levará o leitor para dentro do campo de concentração apresentando o pior e inimaginável lado obscuro do ser humano, mas também mostrará a força da benevolência e da vontade de sobreviver sendo maior do que tudo isso. É um retrato de como "viver" sem saber se estará vivo ao final do dia, sem saber se estará vivo dali a 5 minutos, é viver sem futuro, mas o desejando em cada segundo do dia, é uma declaração de como sobreviver nas condições mais sub-humanas que poderiam existir, de como seguir vivendo com medo até de se alimentar quando o que você mais precisa é isso, é o medo de dormir, de acordar, é o medo pelos amigos que fez, é não saber o que está acontecendo ao seu redor, é agradecer e se desesperar por chegar ao final do dia e viver mais um dia no inferno criado pelo homem.

Essa é uma obra que deixará o leitor transtornado, revoltado e, em vários momento, nauseado, mas também mostrará o lado empático, caridoso e humano do homem, mesmo que em pequenos atos que possam parecer insignificantes são a maior demonstração de generosidade, compaixão, sensibilidade e amor. Tudo o que diz respeito à Segunda Guerra Mundial é tingido pela perversidade, não existem histórias bonitas, pois mesmo àquelas que tenham um "final feliz" ficaram marcadas pelas cicatrizes eternas das atitudes doentias inexplicáveis dos nazistas.

Termino a resenha da forma como comecei: esse não é um livro fácil de ler!


DICA: ao final da história, após o epílogo, o leitor encontrará a nota da autora, o posfácio, além de informações adicionais. Aqui deixo a dica para lerem todos eles, pois cada um tem a sua devida importância para conhecer ainda mais a história de Lale e Gita e como ela foi escrita.

26 comentários

  1. Oie
    Parece ser um livro bem denso e forte. Gosto de livros com essa temática, mas tenho que estar preparada para esta leitura.

    Beijinhos
    https://diariodeincentivoaleitura.blogspot.com/

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    1. Oi Nessa, com certeza, eu também.. agora preciso dar um tempo para ler outro dentro desse tema, mas estou com "O Diário de Anne Frank" em leitura. Beijos, Adri

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  2. Oie!
    Eu adoro livros que se passam na Segunda Guerra. É doloroso, claro, mas também emocionante. Quero ler esse livro há muito tempo, estou esperando o momento certo, sabe? Imagino que deve ser doloroso demais - ainda mais sabendo que a história é baseado em fatos reais.
    Beijos
    Our Constellations

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    1. Oi Ana, tudo bem? Sim, eu sinto a mesma coisa, tenho interesse em livros sobre a Segunda Guerra Mundial, mas sempre sofro quando os leio. Os filmes e documentário já deixei de lado, não consigo encarar. Espero que goste do livro, vale muito a pena ler. Beijos, Adri

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  3. Nossa que história linda, gosto de todos os livros que falam de Auschwitz, e quero ler todos os livros. Mesmo eu quase não tendo estômago pra esses livros, é algo muito tocante e que desperta muito minha curiosidade.
    Sua resenha está maravilhosa, quero muito ler o livro!

    Jardim de Palavras

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    1. Oi Melissa, obrigada! Com certeza esse assunto é doloroso, tocante e revoltante também, mas não deixa de ser interessante conhecer a história que se passou em Auschwitz e a realidade sombria do lugar. Beijos, Adri

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  4. Oi, Dri!
    Sou apaixonada em tramas que se passam na Segunda Guerra, mas preciso estar em um momento ok da vida para ler. Todos eles são sempre bem pesadas e com emoções transbordando pela capa, né? Esse está na minha wishlist há um tempo, mas ainda não consegui encontrar uma época boa para ler. Adorei sua resenha!
    Beijinhos,

    Galáxia dos Desejos

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    1. Oi Mari, tudo bem? Obrigada! Eu concordo, a leitura sobre qualquer guerra deve ser feita em um momento no qual o leitor encontra-se bem, porque é inevitável abalar o psicológico e emocional, aquele tipo de emoção de revirar o estômago mesmo. Espero que goste da leitura. Beijos, Adri

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  5. Oiiizinho.

    Por mais que eu ache a segunda guerra um assunto fascinante e MUITO interessante, não gosto de ler sobre. Historias que se passam e narram a guerra me fazem passar mal, me sinto angustiada e triste na maioria das vezes, então é só por isso que eu passo a leitura, por mais que ela pareça ótima.

    Um minuto para o cosmo

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    1. Oi Anakin. Te entendo e sinto a mesma coisa sobre livros que abordam outros assuntos, acho que o leitor não deve ler assuntos que lhe façam sentir mal, mas com certeza a Segunda Guerra Mundial é um tema relevante sobre a história e interessante conhecer mais sobre ela. Beijos, Adri

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  6. Oii!

    Adorei a resenha! Com certeza deve ser um livro muito impactante e marcante, e bem difícil de ler pelo seu contexto, e por abordar os horrores da segunda guerra mundial.

    Mas me interessei muito pela leitura e já está na listinha para ler.

    Bjão ♥
    Início de Conversa

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    1. Oi Janaína. Que bom que gostou da resenha e se interessou pelo livro, espero que goste da leitura. Com certeza é preciso se preparar para ler, mas valerá a pena. Beijos, Adri

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  7. Oi, Adri
    Já ouvi falar muito desse livro e tantos outros que relatam essa época, mas por escolha minha, eu não gosto de lê-las, justamente por causa do tema. Eu acho que não tenho emocional suficiente para aguentar a narrativa, mesmo que não seja algo realmente triste ou dramático. Se fosse um documentário eu daria uma chance.

    Beijo
    http://www.capitulotreze.com.br/

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    1. Oi Mika, tudo bem? E eu já fujo dos documentários, acredita?! Não sei porquê, mas acho os filmes e documentários MUITO mais sofridos do que os livros... talvez por poder ler aos poucos e ir digerindo o assunto. Beijos, Adri

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  8. Oi, Adri!
    Apesar de ser uma época negra na história da humanidade, eu gosto de ler livros que se passam na Segunda Guerra Mundial. Pela sua resenha, esse livro parece ser daqueles de ar soco no estômago a cada página
    Beijos
    Balaio de Babados
    Concorra a quatro livros e mais um kit de marcadores no instagram

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    1. Oi Lu! E é isso mesmo.. ele até parece ser "inofensivo" por não expressar literalmente todos os horrores e deixar alguns subentendidos, mas é impossível não revirar o estômago só por saber o que se passou realmente. Beijos, Adri

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  9. Oi, Adri!
    Ler sobre o nazismo é sempre muito pesado, né? Não sei se tenho mais estruturas psicológicas, mas esse é um dos livros que me interessa. A premissa é tão interessante, e você fez parecer que realmente vale a pena.

    bjs
    Queria Estar Lendo

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    1. Oi Bibs! Tem alguns livros sobre a Segunda Guerra que eu passo longe, porque nunca é fácil ler sobre o assunto, mas faz parte da nossa história e não podemos deixar no esquecimento. Beijos, Adri

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  10. Oi Dri!
    Acabei de ler "O diário de Anne Frank", sofrido tbm, vou precisar dar um tempo nesse tema! rs
    Mas gosto dessas leituras, são emocionantes e abrem nossos olhos!
    Bjs
    http://acolecionadoradehistorias.blogspot.com

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    1. Oi Carol. Eu estou lendo esse livro também, na realidade dei uma parada, comecei em dezembro, mas acabei não levando para as férias, então agora preciso retomar. Te digo que são livros que apresentam a Segunda Guerra Mundial sob duas perspectivas distintas, mas ambas são tocantes e revoltantes. Beijos, Adri

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  11. Uma leitura que causa muitas sensações no leitor.. interessante parece ser.

    www.vivendosentimentos.com.br

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    1. Oi Monique! Com certeza é, e vale muito a leitura. Beijos, Adri

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  12. Oiii Adri

    É um tema que dá frio na espinha só de recordar, já li alguns livros que retratam esse período e são sempre narrativas profundas e brutais. Eu gosto da premissa ddesse livro por justamente apresentar a possibilidade do amor e da esperança em um dos piores cenários de todos os tempos, que foi Auschwitz. Ele está na minha lista e pela resenha já sei que vai valer a pena conferir.

    Beijos

    www.derepentenoultimolivro.com

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    1. Oi Ivy! Acho que brutal é a melhor definição para as narrativas sobre a Segunda Guerra Mundial (ou qualquer outra). Impossível ficar alheio e não se sentir abalado psicologicamente durante e após uma leitura dessas que desestabiliza qualquer pessoa. Eu gosto da temática, mas preciso intercalar com leituras leves, senão é para pirar. Espero que goste também. Beijos, Adri

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  13. Oi Adri!!

    Nossa!!! Parece aquele livro que bate na gente a cada página virada!! Eu adoro a temática de guerra, e gosto muito da história que esses livros trazem. Infelizmente é um período negro que oferece muita dor e sofrimento, mas necessário para as gerações entenderem um pouco mais o que aconteceu com o mundo!! Já vai pra minha lista!!

    Beijos
    Naty

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    1. Oi Naty. Sim, a temática Segunda Guerra Mundial é atrativa em leituras, mas com certeza tem esse contraponto que é deixar o leitor desestruturado e muito abalado, porque é impossível ficar indiferentes às brutalidades trazidas em palavras e imaginar que o que lemos foi praticado, vivido e sentido por pessoas como nós. É uma boa leitura, com certeza, mas também é sofrida. Beijos, Adri

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